Futebol americano na Madeira

Predadores prontos a atacar
A primeira equipa de futebol americano da Madeira está constituída



Nacional Predadores é a primeira equipa de futebol americano da Madeira que se constituiu em Fevereiro passado.
A introdução desta modalidade no 'mapa' do desporto regional aconteceu pela vinda para a região do brasileiro Marcelo 'Drago' Lisboa, que é o responsável pelo projecto e assume a função de treinador da equipa. Após algum tempo a treinar nas imediações do Lido, chegaram a acordo com o Nacional, que cedeu as instalações do Estádio da Madeira (campo sintético) para a preparação da equipa. Os treinos acontecem duas vezes por semana (quarta e sexta-feira), entre as 20 e as 22 horas.
O futebol americano é um dos desportos mais populares dos Estados Unidos e tem uma competição profissional, a NFL (National Football League) com 32 equipas. Todas elas com uma designação que junta o nome da cidade ou estado de que são oriundas a uma espécie de alcunha, a exemplo da NBA. O 'Super Bowl' - o jogo do título - é um dos espectáculos mais mediáticos do mundo, com grandes audiências televisivas e uma emissão em cerca de 150 países todos os anos.

A razão do nome
Para a equipa que dá os primeiros passos num desporto sem tradição na Madeira, Nacional Predadores Futebol Americano foi a designação oficial escolhida.
Um nome que, explica, Marcelo 'Drago' tem a ver com as características do predador na natureza: grandiosidade, força, determinação e poder. Além disso, lembra, são animais que se encontram no topo da cadeia alimentar. Para já, os cerca de 30 jogadores da equipa limitam-se a ensaiar entre si as jogadas típicas deste desporto, uma vez que não existem adversários que possam defrontar na ilha. Nem se perspectiva que tal venha a acontecer a breve trecho, pelo que a competição apenas poderá acontecer com equipas de outras zonas do país, numa altura em que a modalidade está a dar os primeiros passos em Portugal.
Francisco Gomes, capitão da equipa, explica que o futebol americano tem dois anos de existência no país. "Começou no Porto, depois expandiu-se para Lisboa e apareceu uma outra equipa no Algarve". De momento, quatro equipas estão formadas e outras tantas estão em formação.

Não é um 'jogo de meninas'
Uma das dificuldades por que passou a criação da equipa foi o recrutamento de atletas. Francisco Gomes refere que "este não é um jogo de meninas" e que muitos dos que decidem experimentar têm "muito medo" de se magoarem. "Alguns vêm a um treino e já não voltam". Isto porque a agressividade é uma das características principais do futebol americano. Sem equipas com quem jogar no plano regional, a realização da Taça de Portugal, que o clube está a envidar esforços para organizar no final deste ano, poderá ser a primeira competição desta equipa. "Acho que seria uma boa promoção para a Madeira em termos turísticos", revela o atleta.
"Seria também muito bom e prestigiante para este desporto que a primeira Taça de Portugal da modalidade fosse realizada aqui na Madeira". Mas, por enquanto, esta não vai além de uma intenção. A sua concretização depende de apoios financeiros que ainda é preciso garantir.

Equipamento chega quase aos 300 euros
O futebol americano é uma modalidade cara, face ao equipamento requerido. Por atleta, os custos situam-se nos 250/280 euros e estão a ser suportados pelos jogadores. "Não temos qualquer tipo de patrocínio privado nem do clube. O Nacional dá o nome e as instalações mas não apoio financeiro", informa Francisco Gomes.
Eis o material de um praticante de futebol americano: Capacete - Protege a cabeça, maxilares, queixo e boca das pancadas. Vem em várias medidas para um encaixe perfeito. Feito de fibra.
Armadura - Protecção das costelas.
Calças - Em nylon e fibra, evitam a exposição de ancas, coxas e joelhos a entradas bruscas e quedas.
Ombreiras - Em plástico duro e revestidas de espuma. Presas com fechos e cordões. Dão a impressão dos ombros largos.
Luvas - Têm cola ou resina na palma. Protegem as mãos e ajudam a pegar a bola.
Joelheiras e caneleiras - Protecção do corpo abaixo da cintura.

"É para sermos campeões"
Marcelo 'Drago' Lisboa é o treinador da equipa e veio para Portugal para uma equipa do Porto. Essa oportunidade acabou por não se concretizar, e a Madeira acabou por ser o seu destino. Chegado à ilha, considerou que era uma "boa ideia" introduzir o futebol americano.
Os conhecimentos deste brasileiro resultam da prática de oito anos como atleta, dois deles nos Estados Unidos. De momento, faz parte da Comissão de Arbitragem da Associação de Futebol Americano de Portugal que está em fase de formação.
O começo do seu trabalho foi muito complicado. "Não tínhamos nenhum apoio. Só depois de termos feito o acordo com o Nacional é que temos o que temos hoje. Temos de agradecer ao clube por isso". Depois disso, é que as 'portas' começaram "a abrir-se".
O treinador não está preocupado com a inexistência de competição regional nem concorda que esse possa ser um motivo de desânimo e de abandono de atletas. "Esse perigo não se coloca", responde. "Temos uma média de 25/26 jogadores que nos permite começarmos a ter o nosso treino que é o ataque contra a defesa".

Agressivo sim, violento não
Do que também não tem dúvidas é que a modalidade, que só é conhecida por muitos através da televisão, vai ganhar o seu espaço na Madeira. "Queremos trazer a Taça de Portugal para cá", uma organização que acredita pode ser um ponto de partida para o desenvolvimento da modalidade.
Marcelo não concorda com a ideia de violência que alguns associam ao futebol americano. "Cada um tem a sua maneira de ver. Mas acho que é menos violento que o râguebi porque aqui os jogadores têm protecção para o corpo". Admite, porém, que é um desporto "agressivo".
Nos treinos 'puxa' pelos atletas e naquele a que assistimos chegou mesmo a 'reclamar' por nem todos estarem em campo à hora de início.
Com alguns meses de trabalho pela frente até à Taça de Portugal em Dezembro, seja esta ou não realizada na Madeira, Marcelo 'Drago' vai 'avisando'. "Estamos a trabalhar para sermos campeões".

Equipa internacional
Um jogo de futebol americano é disputado por equipas de 11 jogadores de campo mas o número de atletas inscritos por clube nos Estados Unidos é muito maior e chega aos 58 na maioria das equipas que competem na NFL ou na NCCA (universitário).
Em Portugal, a média é de plantéis com 30 elementos. "Estamos com 25/26 nos treinos", diz Marcelo 'Drago' que aponta. "Nenhuma equipa de Portugal tem essa média. Há algumas só com 20".
Nos cerca de 30 atletas do plantel do Nacional Predadores encontram-se representadas várias nacionalidades. Os portugueses são a maioria, mas há dois brasileiros, dois cabo-verdianos, dois venezuelanos, um americano, um canadiano e um francês.
Nem todos estiveram no treino a que assistimos. Há alguns lesionados e um outro elemento estava ausente devido a afazeres profissionais. Mas Marcelo 'Drago' está satisfeito com os níveis de assiduidade nas duas vezes que a equipa se prepara por semana num dos campos sintéticos do Estádio da Madeira.

De várias modalidades...
Os atletas já passaram quase todos por outras modalidades - futebol, futsal, basquetebol, atletismo, etc. Isso facilita a preparação e a integração num desporto de muito contacto físico e que exige uma boa condição a este nível. Mas não só. Trata-se também de uma modalidade de muita estratégia e táctica, o que abre as portas a uma grande especialização dos atletas para o desempenho das várias funções em campo, da defesa ao ataque.
Os jogos dividem-se em quatro períodos de 15 minutos, num total de uma hora com um intervalo ao fim de 30 minutos. O objectivo é passar da linha número 10 assinalada no campo de 109 por 48 metros e marcar ponto.